terça-feira, 12 de maio de 2015

Vertigo: Pré-Vertigo Parte 2
A história que antecede o selo: 1986-1987





A partir de 1986, a DC passou a ter quatro ou cinco publicações por mês que não pertenciam à cronologia normal ou que tinham um aviso na capa de "Suggested for Mature Readers". Nem todos eram, no entanto, material Vertigo, principalmente em qualidade. As já existentes revistas Hex e Swamp Thing continuaram a ser publicadas mensalmente durante este período.
 
Um dos primeiros títulos novos de 1986 foi a revista Electric Warrior. Escrita por Doug Moench e desenhada por Jim Baikie, a história de ficção científica introduziu alguns temas messiânicos num ambiente que misturava cyberpunk e pós-apocalíptico. O título refere-se ao protagonista principal, um robot que desenvolve consciência humana. Embora a história valha mais pelo world building do que pelas relações entre personagens, a arte de Baikie contribuiu bastante para dar uma identidade própria à revista, que durou 18 números, depois de ter sido lançada em Maio de 1986.
 
No mês seguinte, Moench lançou um título de qualidade bem inferior. Lords of the Ultra-Realm era ostensivamente uma história de fantasia, em que uma dimensão de deuses transforma um veterano da Guerra do Vietname no seu lorde principal. Mas nem a arte de Pat Broderick salvou uma história confusa, com seres pseudo-mitológicos de motivações obscuras e com os saltos entre o mundo alternativo e a Terra a tornarem a história confusa de seguir. Depois de seis números e uma edição especial, foi arrumada no fundo do baú, para nunca mais regressar.

Quem não se farta de regressar à mente das pessoas é Watchmen, o título pré-Vertigo mais famoso de todos, escrito por Alan Moore e desenhado por Dave Gibbons. Tal como Camelot 3000, nunca foi incluído na Vertigo, mas foi uma das primeiras séries a ser republicada em formato encadernado, logo um mês depois do último número. Não há muito mais a dizer sobre Watchmen, a história que reformulou completamente o conceito de super-heróis, colocando-os num ambiente realista, depressivo, onde as consequências das suas acções são devidamente exploradas. Todos os personagens são derivações de super-heróis da Charlton Comics, adquiridos pela DC Comics em 1983. Começando em Setembro de 1986, teve alguns meses de atraso até à publicação da última edição.

O facto de ser, em última análise (e por maior que seja a sua importância literária), uma história de super-heróis, bem como a sua constante republicação (supostamente para impedir que Moore e Gibbons recuperem os direitos de publicação da história) tornou-se um obstáculo para que Watchmen seja vista como uma história apropriada para a Vertigo.

Outro material que nunca passou pela Vertigo é The Shadow. O Sombra, personagem das revistas pulp dos anos 30 e 40, tem aparecido de forma recorrente na banda desenhada. Em Maio de 1986, a DC contratou Howard Chaykin para transplantar o personagem para o presente, numa mini-série de quatro números em formato de luxo. Chaykin acabou por introduzir as suas próprias sensibilidades étnicas e políticas na figura do herói, em contradição com a sua personalidade anterior.

Teve seguimento em Agosto de 1987, com uma série mensal escrita por Andy Helfer e com arte de Bill Sienkiewicz e Kyle Baker. A colocação das histórias no presente e a transformação de Lamont Cranston em Preston Mayrock (um clone) não foi bem aceite pelo público, apesar de não se poder criticar do mesmo modo a qualidade das histórias, com um ambiente algo surreal. A revista durou 19 números, até 1989, com dois anuais, e terminou com o Sombra transformado num ciborgue.



É pouco provável que The Shadow tivesse passado para a Vertigo, que raramente editou material baseado em personagens de outros meios e que tivesse que adquirir os direitos de publicação. Por essa mesma razão, a DC não teria colocado na linha o seu 'colega' dos pulps, Doc Savage, que teve direito a uma mini-série de quatro números escrita por Denny O'Neil e com arte dos ainda principiantes irmãos Kubert, lançada em Novembro de 1986. A história trouxe o herói aventureiro, que foi uma das inspirações dos criadores do Superhomem, para o presente, tal como no caso do Sombra.

Elvira's House of Mystery, começando em Janeiro de 1986, usou a personagem como apresentadora de uma antologia de histórias de terror, no mesmo espírito da série televisiva de 1981. Durou 11 números e uma edição especial, publicada em 1987.





A DC também experimentou lançar graphic novels no mesmo estilo da Marvel, com o título DC Graphic Novel ativo entre 1983 e 1986 e Science Fiction Graphic Novel de 1985 a 1987. No primeiro caso, a DC lançou vários livros independentes, “Star Raiders” e “Warlords”, ambos derivados de jogos da Atari, “The Medusa Chain”, história de ficção científica, “The Hunger Dogs”, levando a história do Quarto Mundo e dos Novos Deuses à sua conclusão natural, “Me & Joe Priest”, “Metalzoic” (publicada em simultâneo no Reino Unido na revista 2000 AD) e “Space Clusters”, todas obras de ficção científica. Trabalharam nesta série autores como José Luis García-López, Ernie Colón, Jack Kirby, Pat Mills e Kevin O'Neil.

Apesar da preponderância de ficção científica, a DC resolveu editar um título próprio, Science Fiction Graphic Novel, mas exclusivamente para adaptar histórias em prosa já existentes: “Hell on Earth”, de Robert Bloch; “Nightwings”, de Robert Silverberg; “Frost and Fire”, de Ray Bradbury; “Merchants of Venus”, de Frederik Pohl; “Demon with a Glass Hand”, de Harlan Ellison; “The Magic Goes Away”, de Larry Niven; e “Sandkings”, de George R. R. Martin. De todas estas graphic novels, a única história reimpressa pela DC foi “Hunger Dogs”, nos omnibus dedicados ao Quarto Mundo de Kirby.

Kirby é alguém que é pouco ligado à Vertigo, mas em janeiro de 1987 foi publicada uma mini-série de quatro números com o seu personagem, The Demon. Da autoria de Matt Wagner, e apesar de ser uma historia relativamente fechada, resolveu as pontas soltas da série do anos 70 e serviu como conclusão para o destino final de Jason Blood e do demónio Etrigan. No final do ano, em Outubro, a DC publicou uma mini-série do Phantom Stranger (Vingador Fantasma), reinventando-o como um agente dos Senhores da Ordem, combatendo Eclipso. Ambas as mini-séries tiveram selo do Comics Code. Etrigan retornou na mini-série Cosmic Odyssey (publicada em português como Odisseia Cósmica), de pedra e cal no Universo DC. O Phantom Stranger, por seu lado, andou dos dois lados da vedação.

O que não teve selo do Comics Code foram duas séries com personagens que estariam mais à vontade no universo dos super-heróis do que os seres sobrenaturais anteriores. No entanto, as suas características como vigilantes urbanos foram a plataforma ideal para contar histórias mais realistas. The Question começou em Fevereiro de 1987, com Denny O'Neil e Denys Cowan aos comandos, reinventando o herói objectivista (filofosia criada por Ayn Rand) como um cruzado contra a corrupção de Hub City, que não era avesso a experimentalismos químicos, algo que o criador do personagem, Steve Ditko, criticou. Vic Sage, o homem por trás da máscara do Questão, tinha algumas tendências masoquistas, uma das razões porque permanecia em Hub City apesar da tarefa sisifiana de limpar a cidade. A revista durou até 1990, com 36 números e dois anuais publicados, e teve crossovers com Green Arrow e Batman. Como o Questão teve histórias subsequentes no Universo DC, nunca foi integrado na Vertigo e esta revista apenas foi reimpressa em 2007.

O segundo título deste género tinha como personagem principal o Arqueiro Verde, na mini-série de três números em formato de luxo Green Arrow: The Longbow Hunters, começando em Agosto de 1987. Podia considerar-se uma escolha estranha para um título para 'Mature Readers', tendo em conta que Oliver Queen era membro histórico da Liga da Justiça, mas o Arqueiro Verde sempre foi dos heróis menos aproveitados, passando anos nas páginas secundárias de várias antologias até se tornar parceiro do Lanterna Verde, a primeira vez que se preocuparam em dar-lhe destaque num título próprio. No entanto, Mike Grell resolveu tornar o Robin dos Bosques da DC ainda mais realista, e Oliver Queen mudou de uniforme, mudou de cidade (foi para Seattle) e mudou de métodos, passando a matar. A história foi reimpressa várias vezes, mas nunca houve uma tentativa de integrar Oliver Queen na Vertigo.

Nesta fase, a DC publicou uma série de mini-séries de ficção científica, com níveis diferentes de sucesso. Outubro de 1987 viu o lançamento de Outcasts, que lidou com um grupo de mutantes revolucionários contra um regime corporativista. A mini-série de 12 números foi escrita por Alan Grant e John Wagner e desenhada por Cam Kennedy, e era uma versão mais leve do material que estes autores faziam na 2000 AD britânica. No mês seguinte, chegou às bancas Slash Maraud, que lidava com uma invasão alienígena mas à qual Doug Moench e Paul Gulacy deram uma qualidade visual semelhante ao filme Escape from New York durante os seus seis números. Finalmente, em Dezembro foi lançado Sonic Disruptors, lidando com uma estação de rádio que estabeleceu uma resistência contra uma ditadura teocrática nos Estados Unidos. No entanto, Mike Baron e Barry Crain produziram uma história confusa que foi cancelada ao sétimo número, quando estava previsto chegar ao 12º.

Merece destaque ainda a mini-série Underworld, um policial em quatro números lançado em Dezembro de 1987 e feito por Robert Loren Fleming e Ernie Colon, que apesar da temática realista, com acção passada em Nova York, tinha o selo do Comics Code. Cary Bates e Gene Colan criaram uma mini-série de 12 números de terror fantástico, chamada Silverblade, começando em Setembro, passada no estúdio de gravação de um filme, uma história que tem alguns fãs entre os escritores, pois chegou a ser mencionada algumas décadas depois numas histórias do Átomo. O título Wasteland, lançado em Dezembro, seria interessante para a Vertigo, já que era uma antologia de humor negro com um design parecido ao que seria adoptado pelo novo selo anos depois. Durou 18 números, sempre escritos por John Ostrander e pelo humorista e actor Del Close, da equipa de Saturday Night Live, com um pequeno número de personagens recorrentes.

Vale a pena mencionar ainda os one-shots Zatanna, ainda que com um visual tradicional, Ironwolf, reimprimindo as três histórias de ficção científica dos anos 70 criadas por Howard Chaykin, e Talos of the Wildnerness Sea, onde Gil Kane reaproveitou temas explorados na conceituada história Blackmark, mas com menos sucesso.

Recorde as partes anteriores desta série:

      

     


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