segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Três Sombras


Por mais que se tente, por maior que seja o amor existente numa relação, ninguém consegue fugir à morte, é a maior certeza que temos.

Cyril Pedrosa teve direito a dois livros editados durante o último Amadora BD, e por duas editoras diferentes: a ASA (Portugal) e a Polvo (Três Sombras). Os dois são excelentes!
Hoje falarei sobre o livro publicado pela Polvo, o maravilhoso Três Sombras. Portugal publicado pela ASA ficará para a semana.


Cyril Pedrosa, um homem que decidiu ser desenhador. E que desenhador! Pedrosa desenha aquilo que é mais difícil: emoções!
Depois de trabalhar para a Disney deu o grande pontapé de saída na sua carreira após um encontro decisivo com Davide Chauvel. Daí ao seu primeiro grande trabalho foi um ápice: Ring Circus. As críticas foram boas e Cyril continuou, felizmente!

Eu não sou um amante da arte estilizada, ou alternativa (como preferirem), mas sei reconhecer a sua força. E a sua força vem de uma história que emocione o leitor, não importando qual a emoção em jogo. A arte estilizada tem de ser usada para dar expressividade a essa catadupa de emoções alicerçadas numa boa história. Este tipo de arte sem uma boa história para lhe dar corpo não vale nada… pode-se dizer que são apenas uns “bonecos” mal desenhados para intelectual ver!

Não é o caso, felizmente.
Cyril Pedrosa joga muito bem com as emoções do leitor, neste caso, ou no meu caso, uma tristeza infinita. Felizmente nunca perdi nenhum filho fisicamente, mas perdi um irmão mais novo. Sei o que está envolvido, embora numa percentagem mais pequena.
Sou pai de três filhos e perder um deles antes de eu me finar é algo parecido com um pesadelo do mais atroz que possa existir. É impensável.

Foi este o tema que Cyril Pedrosa escolher para fazer o seu livro Três Sombras.
Horrível.

O desenho de Pedrosa é dinâmico e equilibrado. Muito expressivo tanto na alegria, como na dor! As falas são curtas. Por vezes nem existem! Não é preciso. A narrativa gráfica deste autor francês é poderosa, o desenho fala por si só.
Por isso aconselho a quem decida ler este excelente livro a demorar em cada página. A voltar atrás, e sedimentar tudo o que o grafismo nos transmite!

Joaquim é um rapaz alegre, e faz parte de uma família feliz. Uma criança feliz com uns pais ainda mais felizes. Uma vida simples vivendo em perfeita harmonia com a natureza!
Mas surge o primeiro sinal do infortúnio… três cavaleiros dos quais só se vêem as sombras surgem lá longe nas colinas. Não há febres, não há tosse nem escarros sanguinolentos.
Aqui assiste-se ao primeiro passo no caminho da dor: a negação! E Cyril Pedrosa não apressa a narrativa… deixa fluir o processo. A mãe mais serena que o pai…
As sombras não desaparecem e Luís, o pai de Joaquim resolve fugir com o seu filho. A fuga! O segundo passo deste caminho doloroso.
Fogem, fogem para longe mas quando parece que já nada pode impedir essa fuga eis que as sombras surgem lá ao longe!
Um pai é capaz de vender a "alma ao diabo" por um filho… esse é o terceiro passo.
Depois da luta chega por fim o cansaço, a rendição, quase a morte do progenitor… o quarto passo.
Joaquim abre os braços ao seu destino, o pai jaz sem forças… e chega por fim a dolorosa aceitação. O quinto passo!
No final a vida continua, os pais de Joaquim continuam a sua vida com novos filhos.
Este passo é o mais difícil por quem passou por este trauma, e muitos pais não o atingem ficando presos na depressão eterna. Dar seguimento à sua vida. O sexto passo, talvez o mais difícil!

Comovente e infelizmente real para muitos pais...

Este livro é recomendado pelo Leituras de BD.
Parabéns à editora Polvo por esta magnífica publicação.

TPB
Criado por: Cyril Pedrosa
Editado em 2012 pela Polvo
Nota: 10 em 10

15 comentários:

  1. O luto sempre é uma coisa complicada, em Agosto ano passado perdi minha mãe e ainda não sarei direito.

    Ela faz muita falta;

    Belo texto meu amigo.

    Um abraço.

    João

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  2. João Roberto
    Obrigado!
    :)
    A diferença está em que perder os pais será o curso natural da vida, é triste mas é assim que acontece naturalmente, mas perder um filho acho que não desejo a ninguém. A dor é muito maior... é uma ferida que nunca fecha.
    :\

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  3. Isto é o tipo de BD que eu procuro hoje em dia e não encontro muito. Eu gosto de BD que me faça sentir alguma coisa. Obviamente tenho prazer em ler uma boa aventura e, esporadicamente e em formato digital, até leio uns House of M, um Civil War, e outros crash bum bangs. Mas aquilo que compro (pelo espaço e pelo dinheiro) tem que me fazer sentir alguma coisa, mesmo que seja desespero, tristeza e perda que é aquilo que eu sinto quando penso neste livro. Para além disso, o desenho de Pedrosa é o parceiro perfeito para a história.

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  4. Ficou a meio...continuando: E eu gosto muito deste tipo de desenho - ao contrário do Nuno - um pouco mais estilizado.
    Pela temática e pelo desenho, o Cyril Pedrosa é um dos artistas que tenho neste momento na minha lista de favoritos.
    O Portugal está na lista de compras mas estou à espera de uma Happy Hour na feira do Livro :-))

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  5. Obra-prima para mim. Adoro o traço do senhor (Em Portugal novamente excepcional), e é como dizes, ele consegue desenhar emoções.

    Adorei, adoro o autor e estou muito contente por este e Portugal terem sido editados cá.

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  6. Nunca tive o álbum "Três Sombras" nas mãos, mas quando pela primeira vez vi algumas das pranchas divulgadas na net, senti logo que qualquer coisa me atraia. O ambiente que em três ou quatro pranchas visionei foi o suficiente para desconfiar que haveria de gostar de lê-lo. Já o álbum "Portugal" folheei-o (atenção, não aplicar o verbo "desfolhar" como tanta gente o faz) numa livraria, e que pena não poder tê-lo trazido comigo.
    Parabéns, Cyril Pedrosa. E obrigado ao Nuno, pela matéria e a sua opinião sempre sincera.

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  7. Tem menos 47 sombras mas 50 vezes mais qualidade :-) Eu sou um grande adepto do estilo icónico, importantíssimo para passar melhor a mensagem, tipo Santo António a pregar aos peixes. Existem grandes, grandes BDs "estilizadas", é um tema, que o meu lado egoísta gostava de ver mais vezes no Leituras (não que não o seja, mas está desequilibrado face aos comics). Quando consulto o arquivo do blogue sinto falta de artigos sobre os grandes autores e grandes livros com esse tipo de desenho. Obras como Bone, Jimmy Corrigan (Chris Ware=génio), ou Cerebus são à sua maneira grandes tratados em arte sequencial sobre os valores humanos e que rivalizam com grandes autores da outra literatura, mas também rivalizam na sua forma original de fazer BD com os grandes autores de traço mais realista. Não consigo comparar o Chris Ware ao Frank Quitely, mas admiro os dois. Não consigo comparar um Dave Sim a um Jim Starlin, mas admiro os dois.

    José Sá

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  8. Luís
    Decididamente este não é o meu género de desenho, o que não quer dizer que não o aprecie devidamente quando acompanhado por uma boa história, e claro, com uma narrativa gráfica forte!
    Cyril Pedrosa faz isto tudo!
    ;)

    Guy Santos
    E é, e é...!
    :)

    Loot
    Também gostei muito que estes dois livros fossem publicados cá! Para a semana será a vez de Portugal da ASA.
    Gosto de pessoas que sabem desenhar emoções!
    ;)

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  9. Carlos Rocha
    Ainda bem que não optaste pelo "desfolhamento"...
    :P
    Este livro tem um ambiente muito forte, aconselho a toda a gente!
    :)

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  10. José Sá
    Credo... não compares estas Sombras com as outras da moda!
    :| Isso nem sequer tem comparação nem queremos com certeza ofender o Cyril Pedrosa!
    :D
    É certo que não é o meu género de BD de eleição, acho que toda a gente que vem a este blogue sabe isso (lol)...
    De qualquer modo já aqui passaram obras como Blankets, O Amor que te Tenho, Habibi e Fun Home entre outras. Está previsto passar brevemente o "Maus" também.
    Bone também irá passar brevemente, portanto ficarás com um arquivo mais a teu gosto. Sou muito esquisito com isto tipo de BD, pela simples razão que se um livro de comics, de Franco-Belga tiver uma história mediana eu tolero o livro porque gosto (ou não) do desenho, mas se um livro deste género falhar na história fica intragável para mim, por isso compro com muito cuidado!
    :D

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  11. Gostei muito deste livro. Ainda não li o Portugal, mas o que vi, tenho a certeza que vou gostar muito, pois o traço do Cyril Pedrosa é do meu agrado.
    Ainda bem que vais falar do Maus, do Art Spieglman, um dos meus favoritos.
    E tal também o Will Eisner: O Edifício,Os Protocolos, O Grande Jogo, etc, tudo grandes obras.

    Um abraço,

    Pedro Gomes

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  12. Pedro Gomes
    O Portugal graficamente é muito bom, mas a história deste Três Sombras é muito mais forte!
    O Maus há-de vir!
    :P

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  13. O estilo do Cyril me agrada e muito, lembra outro artista, o Skottie Young, ao qual estou apaixonado. Mas no caso do Pedrosa, meu desejo é que ele faça ainda mais sucesso que o que citei.

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  14. Venerável Victor
    Pedrosa é muito bom no que faz. O sucesso dele na Europa é grande e este livro teve muito boas críticas no mercado norte-americano... para além disso o Pedrosa não passa a vida a desenhar capa e versões bébés dos heróis Marvel/DC...
    :P

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